O VELÓRIO
Por Jaime Folle
O velório surgiu na idade média, para evitar que pessoas fossem enterradas vivas, pois a medicina, na época, não era tão avançada como nos dias de hoje. Com isso, os médicos solicitavam aos familiares um tempo para ter a certeza que o defunto estivesse efetivamente morto. Conforme as crenças amadureciam, as pessoas passaram a “preparar” seus entes queridos para a passagem ao outro plano, pois muitos acreditavam que a alma permaneceria por perto do corpo. Já outros, ainda hoje, acreditam que o ente querido necessita se despedir dos parentes, mesmo morto. E assim, basicamente, nasceu o costume de velar os defuntos.
Mas, hoje, para que serve o velório? Qual o sentido do velório? Despedida? Não sei! Só sei que quem fica lá 24 horas velando o defunto são os parentes que não se veem há muito tempo e por força deste acabam transformando o momento em um grande encontro de família, que há tempo não se visitavam, e aí fazem sacrifícios e até de muitos quilômetros para se despedir do parente morto.
Porém, em muitos casos, como não dá para festejar o momento, torna-se imprescindível um encontro de piadas, comer bolinhos, bolachas e beber café, e até umas cachaças a noite toda. O engraçado é que, ao menos nos velórios, o defunto recebe tratamento de nobreza e bem altruísta, muitos elogios e se torna um parente adorado, enquanto no caixão, mesmo os que não o viam há muitos anos – e quando lembravam em vida sempre o criticavam – de repente tudo muda com a maior facilidade.
A parentaiada sempre arruma desculpas em vida para não visitar os outros parentes, porém, no velório, é necessidade obrigatória e uma troca de desculpas e elogios falsos ou verdadeiros, na pretensa ideia de que os que em estado de luto fossem se confortar com as suas presenças ou talvez ajudar com suas orações na salvação do defunto.
O velório não deixa de ser um momento de despedida, um tempo para refletir sobre a vida que se foi e para se adaptar a nova realidade da dor dos que ficaram, porém, com o quadrado mental ou a ideia pré-concebida desde a idade média, o velório ganhou em sofisticação, pois custa muito caro velar um defunto hoje, se for contar, toda a infraestrutura, um ritual deixa os parentes endividados.
Agora, não deixa de ser um excelente momento para o encontro daqueles parentes que nunca se veem em vida, e somente conseguem se encontrar nos dias de velórios. Que coisa! Agora me toquei, ficar todo este tempo queimando fosfato cerebral para escrever estas coisas. Desculpem-me os parentes, mas que é vero, é vero…
Até a próxima!
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