FILHOS DE PORCELANA
Por Jaime Folle
Após ter escrito sobre os filhos de quarto no mês passado, vamos dar sequência nesta semana a este tema importante. Desta vez, convido-os para refletir sobre os filhos de porcelana. São os filhos que os pais colocam em cima de um pedestal, onde ninguém pode tocá-los, porque ofende, machuca, quebra…
O psiquiatra Içami Tiba usa a metáfora do pescoço e da asa do frango para mostrar que na criação que obtivemos de nossos pais, aos pais provedores no almoço eram destinadas as partes nobres do frango, como coxa e peito, enquanto que sobravam às crianças as partes menos nobres, como o pescoço e a asa. Já nos dias de hoje, dá-se o contrário, pois os pais oferecem as partes mais nobres para os filhos, enquanto ficam com as partes menos nobres.
Muitos se sacrificam para dar a melhor comida, as escolas mais caras, gastando, às vezes, o que não tem na esperança que seus filhos sejam diferenciados e possam ter sucesso na vida, o que é um “ledo engano”, pois esquecem que estão transformando-os em bibelôs de porcelana, praticamente intocáveis pela sociedade em que vivem. O que estamos assistindo é o crescimento de uma geração de jovens e crianças pouco preparados para o insucesso, pois não são acostumados a receber um não ou uma derrota, e quando isso acontece a porcelana quebra por suas fragilidades diante dos desafios da vida.
Mas por que tudo isso está acontecendo? A verdade é que a maioria dos pais não sabe dizer não para os seus filhos, tentando a todo custo livrá-los da decepção e do fracasso. Com isso, nas melhores das boas intenções, estão criando seres imaturos, egocêntricos e mal-educados para enfrentar, por vezes, uma sucessão familiar, recebendo grandes heranças, e não sabem o que fazer com ela, ficam pobres em pouco tempo e aí o caminho todos sabem qual será.
Muitos pais se preocupam em demasia que seus filhos enfrentem problemas, por isso os protegem de qualquer tipo de bullying, palavras ofensivas, um chamamento de atenção que tudo acaba virando uma defesa dos pais, ou um processo contra quem os praticou, e seu filho de porcelana cresce sendo excessivamente protegido, sem saber o que é enfrentar os tombos da vida e quando chega a idade de se virar sozinho caem em depressão e em desespero por não ter sido preparados quando ainda havia tempo para isso.
Até a próxima!
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