A ameaça dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre uma série de produtos brasileiros a partir de agosto deste ano acende um alerta nos principais setores econômicos do Brasil. Essa sobretaxa pode provocar severos efeitos negativos em segmentos estratégicos, como carnes, café, suco de laranja e aeronaves.
Com a medida motivada por questões políticas e não econômicas, entidades brasileiras já anunciam prejuízos bilaterais e defendem a busca por diálogo para evitar um cenário de retaliações que comprometam as relações comerciais entre os dois países.
Impacto nas exportações de alimentos: café, carnes e suco
Café: maior consumidor mundial em alerta
Os Estados Unidos são o maior consumidor global de café, com um consumo anual de cerca de 24 milhões de sacas. O Brasil, como principal exportador mundial, abastece 32% do mercado americano, o que significa que qualquer tarifa elevada vai aumentar diretamente o custo do produto para os consumidores nos EUA. A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) alerta que toda a cadeia produtiva poderá sofrer pressões, afetando a competitividade brasileira e elevando custos operacionais em um momento delicado de ajustes no mercado internacional.
Carnes: setor essencial com peso significativo
No primeiro semestre de 2025, o Brasil exportou 181 mil toneladas de carne bovina para os EUA, quase o dobro em relação ao mesmo período do ano anterior, gerando receita superior a US$ 1 bilhão. O país é um dos principais fornecedores para os americanos, que atualmente possuem o menor rebanho bovino desde 1950, o que os torna altamente dependentes da importação para suprir sua demanda interna.
Além da carne bovina, o mercado americano comprou 14,9 mil toneladas de carne suína e 15,2 mil toneladas de ovos, movimentando dezenas de milhões de dólares. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) defende que a segurança alimentar global não deve ser comprometida por interesses geopolíticos, e que barreiras tarifárias podem prejudicar o abastecimento dos EUA.
Suco de laranja: setor em risco de paralisação
Os Estados Unidos são responsáveis por 41,7% das exportações brasileiras de suco de laranja, que em 2024/25 geraram receita de US$ 1,31 bilhão. Segundo a CitrusBR, a sobretaxa de 50% pode causar interrupções na colheita, desorganização da produção e paralisação comercial, trazendo impactos imediatos na produção, no emprego e na competitividade do setor, que já enfrenta desafios no mercado global.
Setor industrial e tecnológico: aeronaves e equipamentos em xeque
Embraer: líder do mercado de jatos executivos nos EUA
A Embraer, maior fabricante brasileira de aeronaves, depende fortemente do mercado americano, que representa 60% de suas vendas de jatos executivos. A empresa mantém até uma fábrica nos EUA, empregando 500 pessoas. Apesar da companhia não ter se manifestado oficialmente, analistas indicam que parte dos componentes dos jatos é produzida localmente, o que poderia reduzir o impacto das tarifas, mas o efeito geral sobre a margem e a competitividade ainda gera preocupação.
Indústria pesada e equipamentos elétricos
Produtos siderúrgicos, óleos combustíveis, equipamentos de engenharia civil e minerais não metálicos também estão entre os principais bens exportados para os EUA e devem sofrer com a tarifa. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) alertou que equipamentos elétricos de grande porte, essenciais para a infraestrutura de recarga de veículos elétricos nos EUA, podem ter suas vendas prejudicadas, impactando investimentos bilaterais e o desenvolvimento tecnológico.
Balança comercial e justificativas contestadas
Em 2024, os dados apontam que o Brasil importou cerca de US$ 44 bilhões em produtos americanos, enquanto exportou aproximadamente US$ 42 bilhões, configurando um déficit na balança comercial para o país. Especialistas indicam que esse cenário torna a tarifa americana ainda menos justificável, já que o argumento oficial de proteger a balança comercial não encontra respaldo nos números oficiais.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também condenou a medida, destacando que o impacto negativo será sentido por ambos os lados e que apenas o diálogo aberto e contínuo pode resolver conflitos comerciais sem prejudicar as economias e os setores produtivos.
Possíveis respostas do Brasil
Diante da ameaça tarifária, o governo brasileiro avalia medidas de retaliação que possam proteger os interesses nacionais sem prejudicar a indústria interna. Entre as ações em estudo estão o aumento das tarifas de importação de bens americanos, a cassação de patentes de medicamentos e a elevação da tributação sobre produtos culturais como filmes e livros, que envolvem direitos autorais.
Entretanto, autoridades garantem que as medidas serão tomadas de forma a evitar danos significativos à economia brasileira e preservar a estabilidade do setor produtivo.
Fonte: Portal Terra